segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O Marciano

“O planeta Marte enviou um emissário à Terra. Invisível, a sua tarefa consiste em observar o comportamento dos habitantes deste planeta quase desconhecido e enviar relatórios periódicos da sua missão. Escreva um desses relatórios.”


Relatório

Planeta Terra, 15 de Setembro de 2001

No dia 11 de Setembro de 2001, pela manhã, fui surpreendido com algo que jamais tinha visto na minha vida de astronauta descobridor.

Ao despertar, decidi fazer a minha corrida matinal diária, saí do meu “habita-telhado” e deparei-me com o Inferno. Só havia fumo, destroços, uma grande agitação, muitos gritos e senti imensa tristeza no ar.

Já com uma certa inquietude por não conseguir ver o que se passava, ao correr um pouco e desviar-me de todos os que se encontravam à minha frente, mandei um grito descontrolado quando cheguei ao ponto do acontecimento. O fumo dificultava-me a visão mas, ao esfregar os “olhozóculos”, encontrei as maiores torres deste planeta destruídas, pessoas mortas no chão, adultos desesperados e a desmaiar, imensos bombeiros feridos e polícias sem saber bem como reagir a tal catástrofe.

Senti imensa raiva, por ter numerosas perguntas e ninguém me ouvir. Como teria tal coisa acontecido? Teria sido um acidente, certamente que ninguém ia querer fazer, de propósito, algo tão arrepiante e catastrófico.

Tive que esperar que a confusão acalmasse minimamente, para poder voltar para o meu “habita-telhado”, no caminho olhei para uma montra e vi todas as minhas respostas ali. Em todas as televisões lá expostas, podia ver-se a notícia do que eu estava a assistir. Liguei o meu “traduzoterráquia” para perceber o que diziam e fiquei tão pasmado que a minha boca se manteve aberta durante algum tempo.

“Esta manhã, quatro aviões foram sequestrados. Dois deles, chocaram contra as torres World Trade Center de Nova Iorque. Outro, embateu contra o Pentágono (edifício famoso das forças armadas dos EU) no condado de Arlington em Virgínia e o último despenhou-se. (…)
Especialistas afirmam que se trata de um atentado com ataque suicida coordenado pela Al-qaeda contra alvos civis dos Estados Unidos da América. (…)”

Este planeta adora guerras, já me apercebi que os “grandes senhores”, aos quais chamam de “presidentes”, planeiam ataques aos outros países com o intuito de ficar com as riquezas e armas deles. E estes, como forma de protesto e revolta, respondem-lhes com ataques aos seus países. Mas, o mais horrível disto tudo é que eles não saiem do aconchego dos seus “habita-telhados” gigantescos e deixam o trabalho sujo para o seu povo, pessoas indefesas que são forçadas a fazer uma viagem que, muitas das vezes, não tem regresso. Não são as famílias dos “grandes” que choram pelos entes queridos, não são os seus filhos que ficam sem pai porque este “lutou pelo país”. Será que essa criança vai conseguir amar o país que lhe levou o seu pai para sempre?
Este planeta é tão diferente, esforçam-se para que os outros acabem mal, existem extremos de riqueza e extremos de fome. Os ricos querem tudo o que têm só para eles mas os pobres tentam ajudar com o pouco que lhes resta. O planeta Terra é realmente confuso.

Nem consigo imaginar o sofrimento e a aflição que as pessoas, que estavam sequestradas naqueles quatro aviões, estavam a sentir. Com armas apontadas, sem se poderem mover, vendo o seu destino nas mãos daqueles terroristas, sabendo que iam morrer e não podiam dizer nada a quem mais amavam.

E as pessoas que se encontravam a trabalhar ou somente de visita naquelas torres? De um minuto para o outro, olharam pela janela e viram um avião na sua direcção. Mesmo muitos dos que sobreviveram ao choque não conseguiram sair daquele pesadelo visto que, tudo ao seu redor estava coberto de chamas.

Resta-me falar dos bombeiros e policias que tentaram salvar os que se encontravam dentro dos edifícios. Mesmo com as melhores das intenções, ficaram junto dos que queriam salvar, como se tivessem feito algo de errado. Foi a sua recompensa.

De certeza que todas essas pessoas, naquele momento, se perguntaram a si próprias “Porquê eu?”. E quem lhes vai responder? O George W. Bush ou o Osama Bin Laden (ambos “grandes senhores”)? Nenhum deles, estão demasiado ocupados a elaborar o plano para o seu próximo ataque.

Ontem li num jornal que, até ao momento, foram descobertos por volta de três mil e quinhentos mortos e vinte e quatro pessoas foram anunciadas como desaparecidas. Mas os governantes continuam insatisfeitos… Será que o objectivo deles é ficarem com o planeta só para eles? Se assim for, eu marco uma reunião com os dois e comunico-lhes que não necessitam provocar a morte de tanta gente. Posso levar todos comigo, cabem todos no nosso planeta, não cabem? São muito bons trabalhadores e quase tão inteligentes como nós, só necessitavam duma Acção de Formação de bons modos e respeito.
Peço desculpa, eu sei que era suposto realizar um relatório mas eu sou um marciano como os outros, tenho carne e matéria verde como todos vós. De facto, relatei o sucedido, mas com sentimento.

Sinceramente, acho que já tenho todos os objectivos da minha missão concluídos. Consegui observar e transmitir-vos o que é realmente este planeta. Confusão, miséria, fome, sofrimento, criminalidade, dor... Isto tudo num só dia, num só planeta, acho que ele não é assim tão grande para que caiba tudo isto lá dentro e reste espaço para as coisas boas da vida.
Espero então a vossa autorização para regressar. Como devem calcular, não tenho muita vontade para me manter neste local.


Saudades e um abraço para toda a minha família.

Cumprimentos Marcianos,
Inventady Martingy

P.S.: No dia do atentado, quando observava o que se estava a suceder ouvi uma terráquea a gritar “Isto parece de outro mundo!”… Visto que em Marte não acontece nada parecido, será que existe algum planeta com algo pior que isto?! Não me mandem para lá, por favor!

2 comentários:

  1. O conteúdo foi engraçado, a história jamais o será. Gostei muito e é bom saber que se pode interagir com marcianos na Terra. Pelo menos em Marte não há guerras xD

    Beijinho

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  2. Bonito texto... a minha sis escreve pa caramba :P :P

    Bjos

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