domingo, 29 de agosto de 2010

Era uma vez a amizade

Era uma vez um menino e uma menina… Não meu público, não se trata de um romance, não é uma história que envolve beijos e carícias, é mais forte que isso.

Há seis anos atrás, havia um grupo harmonioso de amigos, era uma amizade bonita onde existia confiança, alegria e divertimento.

Soube-se que um deles ia viver para a Angola, isso causou uma enorme tristeza no grupo. No último acampamento em que estavam todos juntos, a rapariga percebeu que aquele amigo era um Grande amigo e chorou abraçada a ele. Não queria perder uma amizade assim, não perdeu.

Ele viajou, conheceu, estudou, adorou o que viu, amou o que viveu. Enquanto isso, aquela amizade não se apagou, pelo contrário, tendeu a aumentar. Falavam todos os dias pela Internet, eram como o diário um do outro e, com o tempo, tornaram-se mesmo cúmplices e inseparáveis.

O tempo passou, eles cresceram e, hoje, a menina já não é uma menina, sou eu, Telma Pereira. Hoje também já não és um menino, és o João Piecho, alguém suficientemente forte e corajoso para deixar Angola, deixar a fantástica família que lá tem e procurar o seu futuro sozinho.

Dou-te muito valor, desde sempre que idealizei esse caminho para mim e nunca o fiz, por falta de financiamento mas, talvez, por falta de coragem também. És um artista e sei que vais triunfar nesse teu mundo.

Devo-te um “Obrigada” por tudo o que já me proporcionaste. Todas as gargalhadas, todas as lágrimas, todas as confidências, todos os desabafos, todos os segredos, todos os sonhos, TUDO! Partilhámos tudo (ok, pronto… quase tudo xD) e quero que continue assim, esta amizade é única e forte demais para acabar.

Tenho pena que o grupo de há seis anos atrás se tenha resumido a nós dois, mas acho que a amizade de todos concentrou-se em nós e torna-a mais forte!

Quero que saibas que esta tua última passagem por Angola fez-me pensar que devemos aproveitar quando cá estás e sair mais porque um dia sei que vais para Angola e ficas lá de vez. L

És mais do que um amigo Piecho.
És como um irmão, acredita.

Isto tudo resume-se à mensagem principal:

PARABÉNS MY BRO’THER!

Sei que foi extremamente lamechas, mas veio de cá de dentro. x)

Um beijo,

Telma P.


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sabes o que é?


Numa bela tarde de Verão, caminhava pela cidade quando senti uma sede insuportável e decidi entrar no primeiro café que avistei para comprar uma Coca-Cola gelada.

Na esplanada desse café encontravam-se, numa das mesas, duas raparigas envolvidas numa conversa longa que parecia interessante. O olhar da loura parecia que a denunciava, como se estivesse a contar o maior segredo da sua vida. A morena, por sua vez, observava todas as expressões da amiga e escutava tudo o que ela dizia como se quisesse entrar na sua mente e arrancar-lhe os verdadeiros pensamentos que nitidamente estava a esconder.

Aquele episódio entusiasmou-me e, com a intenção de tornar a minha tarde mais produtiva, sentei-me na mesa ao lado a beber a minha Coca-Cola.

Como já calculava ouvi tudo na perfeição.

A loura falava constantemente, sem pausas, impossibilitando a intervenção da morena. A sua amiga também não parecia querer intervir, escutava e sorria com uma expressão do tipo “Estás feita!”.

- Sabes quando acordas e olhas logo para o ecrã do telemóvel à espera de algo? E sorris ao ver que esse algo está lá?

Sabes quando sentes um género de formigueiro no estômago quando te dizem aquilo que não estavas á espera de ouvir?

Sabes quando tentas esconder as emoções que uma pessoa te está a fazer sentir, mas acabas sempre por deixar escapar um sorriso idiota?

Sabes quando te deixas dormir a pensar na mesma coisa que preenche o teu pensamento quando acordas?

Sabes quando imaginas o depois sem ainda haver um agora?

Sabes aquela sensação de medo misturada com curiosidade?

Sabes quando associas tudo ao mesmo?

Sabes aquela cara engraçada que se põe quando se sonha acordada?

Sabes quando tentas explicar coisas que simplesmente não têm explicação?

Sabes quando tens mil e uma perguntas para fazer mas não as fazes porque estão presas na tua insegurança?

Sabes quando pensas constantemente se a pessoa está como tu?

Sabes quando não queres dizer nada mas quando te apercebes já está dito?

Sabes quando tudo o que essa pessoa te diz te anima e te faz rir?

Sabes quando não queres acreditar no que está a acontecer devido às circunstancias mas notas que está mesmo?

Sabes quando negas a ti própria o que te está a acontecer mas, numa noite, notas a ausência e preocupas-te mais do que devias?

Entretanto o telefone da loura vibra anunciando uma nova mensagem.

- Sabes quando vibras ao mesmo tempo que o telemóvel vibra?

Sabes?

Sabes o que é?

Sabes o que me está a acontecer?

- Hm, sim sei… Isso é… - Disse a morena devagar.

- NÃO! – Interrompeu a loura exaltada.

- Não me respondas.

Não quero saber.

Fez uma pausa e com uma careta interrogou a amiga:

- Achas mesmo que é…

- Todas nós sabemos o que isso é… Cuidado. – Disse eu enquanto me levantei e me afastei sem esperar uma resposta.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Era uma vez...

Era uma vez uma menina.

Era uma vez uma menina que estava triste.

Era uma vez uma menina que chorava sozinha.

Era uma vez uma menina que se sentia só.

Era uma vez uma menina que sentia o seu coração a gemer.

Era uma vez uma menina que ficou sem a força que tanto lhe gabavam.

Era uma vez uma menina que viu tudo a escapar-lhe das mãos.

Era uma vez uma menina que lhe apetecia desaparecer, viajar, procurar e descobrir.

Era uma vez uma menina que nem forças para isso tinha.

Era uma vez uma menina que pensava dar conta do recado.

Era uma vez uma menina que acreditava que podia voar e caiu.

Era uma vez uma menina que olhou à sua volta e nada lhe sorriu.

Era uma vez uma menina que se magoava a ela própria.

Era uma vez uma menina que acreditava em milagres e descobriu que Deus é fachada.

Era uma vez uma menina que deixou de acreditar que apesar de não existirem príncipes ela podia ser uma princesa.

Era uma vez uma menina que sonhava demasiado.

Era uma vez uma menina que acreditava que para haver acção tinha que haver sentimento.

Era uma vez uma menina que julgava ser importante.

Era uma vez uma menina que tinha esperança.

Era uma vez uma menina que acreditava na sinceridade.

Era uma vez uma menina que lhe apetecia desaparecer.

Era uma vez uma menina que lhe apetecia desistir.

Era uma vez uma menina que não encontrava o sentido das coisas.

Era uma vez uma menina que não entendia o ciclo da vida.

Era uma vez uma menina que não queria voltar a acreditar.

Era uma vez uma menina que chorava sozinha.

Era uma vez uma menina que estava triste.

Era uma vez uma menina.

Era uma vez.

Era.


Já não é uma menina,


... ou não vai ser.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

E sonhar é assim... (continuação)

- A terra do quê?! Não, nada disso… Eu sou do Montijo. Nem conheço essa terra… Já agora, que terra tão bonita é esta?


(Continua...)

- Hum, já vi que és nova por estes lados. Estás na Terra da Perfeição. Bem-vinda! – Disse o duende.

Ao ouvir tal coisa pensei que estava na terra dos loucos, mas decidi entrar no jogo, talvez aquela espécie de anão me pudesse indicar o caminho para casa.

- Mas a perfeição não existe. Fala-me um pouco do teu mundo. – Disse eu.

- No teu mundo acredito que não haja, mas aqui a perfeição é o prato do dia. Em vez de te explicar, sugiro-te que explores e tires as tuas próprias conclusões. – Disse ele.

Hesitei, porque o que queria mesmo era regressar a casa mas não tinha outra hipótese, pois sozinha não ia a nenhum lado.

- Espera, com toda esta conversa nem me apresentei a mim nem ao meu grupo de amigos. – Disse o duende quando eu já me tinha afastado.

- Pois, eu também não. Sou a Telma, prazer. – Respondi eu.

- E o teu nome qual é? – Perguntou o duende curioso.

- Acabei de o dizer, Telma. – Respondi eu, confusa.

- Não, não. Aqui, isso é o apelido. O nome é algo mais pessoal que fortalece a amizade e ajuda a torná-la perfeita. Como é que os teus amigos te chamam? – Explicou ele.

- Ah, a alcunha. Chamam-me Telminha ou então Dé. – Respondi.

- Gosto de Dé. Eu sou o Big Brother, encarrego-me de orientar toda a aldeia. – Apresentou-se o duende.

- Aquele que vês a trepar uma árvore é o Gorducho, em busca de fruta. Estás a ver aquele arbusto destroçado? De certeza que foi o Arrastão que o mandou ao chão, é um pouco trapalhão mas muito divertido.
“Aquela que está a dormir a sesta à sombrinha é a Pipos, porque quando era pequena caiu e espetou dois pregos por baixo do lábio mas até lhe ficam bem! É aquela amiga que tanto podes desabafar como rir à gargalhada.”
“Também te apresento o Fininho, que é tão magro que mal o vês ao longe. Tem piada, mas anda sempre na lua e acelerado.”
“Por fim, a gota de esgoto. Tem alguns problemas com a água e com a limpeza mas é a melhor amiga que podes ter.”
“Se tiveres alguma dúvida já sabes, podes contar com qualquer um de nós. Diverte-te. – Disse o duende e afastou-se.

Os habitantes ofereceram-me o maior cogumelo que tinham para que eu me instalasse e mesmo assim dormi com os pés fora de casa.

No dia seguinte, comi uma fruta muito suculenta e acompanhei os duendes para entender a sua forma de vida.

A primeira coisa que reparei foi na serenidade e na paz existentes naquele local.

- Arrastão, aqui não existe guerra? – Perguntei eu.

Tropeçando numa pedra e baloiçando até mim respondeu:
- Não. Aqui a coisa mais agitada sou eu mesmo. Conseguimos sempre entrar em acordo evitando assim os conflitos.

Uau! Pensei eu. Um mundo sem guerra…seria fantástico. Seria perfeito.

Ao observar todas as crianças, notei que faziam tudo o que queriam sem qualquer impedimento. Deduzi que naquela aldeia, a liberdade era para todos.

Durante o meu passeio, reparei num casal aos beijinhos e lembrei-me de perguntar a alguém como seria o amor na Terra da Perfeição.

- Fininho, como é que vocês conquistam os vossos grandes amores? – Perguntei eu ao Fininho que quase que não se apercebeu que a pergunta seria para ele.

- Hum, isso é para mim? Conquistar? Nem sei o que isso é. (risadas) Aqui os amores acontecem duma forma muito simples. Nós, os rapazes, olhamos para as miúdas, quando vemos uma que gostamos dizemos “Gosto de ti!” e pronto, apaixonamo-nos instantaneamente e para todo o sempre. – Disse ele.

- Ah! Muito simples, de facto. Então e tu? Ainda não te vi com ninguém. – Disse eu curiosa.

- Oh isso é porque sou o galã cá da terra, gosto de muitas ao mesmo tempo e nenhuma me resiste. – Gabou-se ele.

Não acreditei muito no que ele disse, até porque observei um grupo de raparigas a gozar com ele pela sua estatura física. Mas deixei-o viver na sua ilusão, era feliz assim.

Quando pus a mão no bolso lembrei-me que não tinha nada comigo e a fome já apertava. Precisava de saber como iria arranjar dinheiro para comprar comida.

Avistei a Gota de Esgoto e decidi falar com ela, mas afastada uns bons metros de distância.

- Olá Gota de Esgoto, tenho uma dúvida. Como compro comida aqui? Não tenho dinheiro. – Perguntei eu quase a gritar.

- Não tens o quê? Não interessa… A parte da comida é com o Gorducho. Nós cá dividimos as tarefas por todos, trabalhamos para todos e desfrutamos todos. – Respondeu ela.

- Ah, já percebi. Obrigada, vou ter com o Gorducho. – Disse eu enquanto me afastei.
Depois de comer uma salada de fruta deliciosa feita pelo Gorducho, pus me a pensar em tudo o que tinha visto.

Na verdade, tudo naquele mundo era simples.

Existia paz e liberdade e não havia sofrimento no amor. O dinheiro não era problema para ninguém e não havia fome.

Estava quase a render-me e dizer que realmente aquele mundo era perfeito quando me apercebi que faltavam coisas importantes para a perfeição.

Onde estava o sabor da conquista? A luta?

Aqueles habitantes tinham Paz, mas nunca fizeram nada por tê-la e se não havia guerra, não se desentendiam, não tinham ideias próprias de uma personalidade forte, não tinham interesses.

Adorei ver as crianças libertas e a liberdade sempre foi das coisas mais importantes para mim. Mas, pensando bem, porque é assim tão importante? Porque é preciso luta e sacrifício para a conquistar pouco a pouco. Naquele povo, as crianças já nascem com toda a liberdade, então a que lhes saberá aquela aquisição? A nada, porque nunca souberam o que é não a ter.

E o amor, um sentimento tão bonito e tão pouco valorizado naquela terra. Onde está o interesse de amar alguém que não conquistámos? E o amor sem uma única lágrima será amor?

Cheguei à conclusão que se ficasse mais uma semana naquela terra e ia-me fartar.

Aquelas pessoas não lutavam pela vida, não tinham objectivos e, senão passavam dificuldades, não ganhavam experiência de vida.

- Big Brother, decidi voltar para a Terra dos Pensadores do Seu Próprio Umbigo. – Disse eu determinada.

- Mas na tua terra existem tantos problemas, podes cá ficar. – Respondeu Big Brother.

- Os problemas e os obstáculos da minha terra dão-me gosto de viver. Como volto para lá? – Perguntei eu ansiosa.

- Admiro a tua coragem. Um dos meus amigos te levará de volta. – Disse Big Brother.

- Eu posso levá-la! – Respondeu logo o Fininho.

- Não! É melhor não. – Responderam todos em coro pois sabiam que o mais provável seria perdermo-nos os dois.

- Eu posso ir, ainda não a conheço. – Disse a Pipos sorrindo.

- Então o Gorducho prepara-vos alguns alimentos para a viagem e podem partir.

A caminhada foi longa, durou toda a noite, mas como conversámos todo o caminho não foi cansativa.

- Pronto, chegamos. – Disse a Pipos.

- Mas isto… é um penhasco! – Disse eu assustada.

- Sim, tens que saltar. Não te preocupes, não te vais magoar. – Disse Pipos pondo-me a mão no ombro.

- Hum, não sei. É muito alto. – Disse eu tremendo.

- Vá, coragem. Confia em mim. – Respondeu ela confiante.

Despedimo-nos com um abraço e ao respirar fundo saltei. Senti uma liberdade imensa, algo que aqueles habitantes nunca irão sentir.

Quando abri os olhos, estava de volta à paragem de autocarros e o Mp4 que tinha na mão já não tinha bateria. Tinha perdido o autocarro, restava-me mais uma hora de espera pelo próximo. Enfim, de volta ao meu mundo.

Estava frio, pus as mãos nos bolsos. Tinha, num deles, um guizo colorido. Pensei para mim: Sim, a perfeição é bonita de se viver, mas somente num sonho.


… E sonhar é assim…

quarta-feira, 18 de março de 2009

E sonhar é assim…

Mais um dia igual aos outros.

Sentada na paragem de autocarros, observava as pessoas que passavam sempre a correr e com ar bastante preocupado.

Enfim, o nosso mundo é feito de stress.

Acabei por meter os phones nos ouvidos pois já não aguentava com as buzinadelas dos carros que passavam, e com a música de Mafalda Veiga deixei-me dormir.

Quando abri os olhos, assustei-me. Já não estava na paragem de autocarros e já não ouvia os barulhos poluentes.

Estava à beira de um lago sereno sem uma única agitação para além dos peixes a virem ao de cima petiscar.

Procurei algum pescador ou mesmo uma fábrica, visto que já não há água sem óleo ou lixo, mas não encontrei nada e a água era transparente como nunca tinha visto.

Procurei então carros estacionados ou beatas no chão, mas continuei a não encontrar nada. Parecia estar sozinha.

Pus a mão no bolso à procura do Mp4 e, sem querer, arranjei resposta para o que se passava. Não tinha o Mp4, o telemóvel, a mala, não tinha nada para além do que tinha vestido. De certeza que tinha sido roubada, fiquei inconsciente e levaram-me para o mato.

Mas porque não estava eu magoada ou a sangrar? Hoje em dia já não há assalto sem agressão.

Deixei de pensar nos porquês e concentrei-me mais em regressar a casa, caminhei pela floresta à procura de algo que nem eu sabia bem o quê.

Ouvia-se passarinhos e via-se veados em liberdade. As borboletas com cores extraordinárias não me temiam.

Subitamente, começo a ouvir uma melodia diferente de todas as outras. Soava como uma harpa mas parecia uma flauta, dava ritmo como a guitarra mas acalmava como o piano. Não consigo explicar tal maravilha, só sei que me dava vontade de a seguir. E assim fiz, segui o som durante horas até encontrar um largo relvado rodeado por árvores. Havia pequeníssimas cabanas como se fossem para as bonecas, tinham o formato de cogumelos e pelas chaminés saiam bolhas de água.

Pensei que fosse um parque de diversões e bati a uma das portas para pedir um táxi.

Mas, não era um parque de diversões, nem sei bem o que era. A porta abriu-se e espreitou uma criatura azul a perguntar quem era. Eu fiquei sem conseguir falar e como não obteve resposta saiu para ver o que se passava.

Era extremamente baixo, tinha possivelmente o tamanho de uma criança de quatro anos.

O seu azul era vivo e cobria todo o seu corpo, tinha uma túnica de palha vestida e um chapéu com o formato do clássico chapéu de bruxa, mas caído para baixo e, na sua ponta, estava preso um guizo portador de todas as cores do arco-íris.

Com a sua cara engraçada e esquisita olhou-me de cima a baixo com um ar interrogado mas de seguida sorriu.

- Muito Bom Dia! Precisa de ajuda? – Disse ele sorrindo.
- Ham… Precisava de uma ajudinha sim… Estou perdida…ham… não sei onde estou… - Disse eu, um pouco nervosa e atrapalhada.
- Oh menina, você deve ser da terra vizinha, quase que aposto…ai como se chama mesmo… a terra dos…dos… pensadores…ai…Pensadores do Seu Próprio Umbigo, é isso! – Concluiu ele já aflito.
- A terra do quê?! Não, nada disso… Eu sou do Montijo. Nem conheço essa terra… Já agora, que terra tão bonita é esta?


(Continua...)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Os 18!

Este texto é antigo, já tem um aninho, mas gostei imenso de o escrever. Só num espaço de um ano muitas das minhas ideias mudaram. Passo então a mostrar-vos.

Em criança, sonhamos com futuros mágicos, com principes únicos e com a aquisição do corpo de sereia.
Tinha 6 anos e contava os que me faltavam, "ainda 12", pensava eu. Todo este tempo fiz contagem decrescente. Julguei sempre os 18 anos como uma meta, uma conclusão. A altura em que seria outra pessoa, com objectivos realizados e com muito para contar.
Quantas as vezes que sonhava acordada com o menino que estaria comigo. Quem seria o primeiro amor.
A maior curiosidade era como seria a minha personalidade, o meu estilo, o meu Eu.
Com 6 anos vemonos como os melhores. Nao duvidamos que conseguimos tudo o que queremos, vendo assim um futuro de sonho.
Felicidade? Fácil.
Amor? Garantido.
Amizade? Nao vai faltar.
Sucesso? Sem dúvida.
Universidade? Qual é a dúvida?
Não passa de ilusão.
Passa-se a meta e olha se para trás.
Observa-se que os obstáculos cairam conosco.
Supera-se dificuldades, mas nao ganhamos nada com isso!
Olhamos para trás e rimo-nos de nós!
Rimos da esperança!
Continúo a mesma, com os mesmos objectivos por concluir mas sim com muito por contar.
Memorias.
Sorrisos.
Choros.
Sentimentos.
Experiências.
Estamos no meio termo da vida, não sabemos tudo mas já se sabe muita coisa.
"Quem seria o primeiro amor?" ... Quem diria que o amor seria aquilo... Descobrimos que nao é so rir e dar beijinhos.
Amar é coisa para gente grande.
Adolescentes sofrem com sentimentos de adultos. Falta nos pedalada!
A minha personalidade, o meu estilo, o meu Eu.
Olho-me e vejo-me...
Eu?! Alguém... Sem muito para aprofundar!
Dificil...
Paranoica...
Teimosissima!
Impaciente...
Nervosa...
Uma Querida!
A Amiga!
A melga!
Nunca a Melhor! Diferente. Todos o somos!
Diferente á minha maneira!
Alguém com medo do futuro.
Felicidade? A caminho dela.
Amor? Nao, Obrigada.
Amizade? Poucos mas Verdadeiros.
Sucesso? Um dia.
Universidade? Com esforço.
As ideias mudam quando se alcança os 18!
A vida, a pessoa, a beleza... isso não muda!
Mas aprende-se a mudar as ideias, os sonhos e as ilusões!
Crescemos mas não tudo. Alcança-se, e vê-se que 18 não é nada mas é tudo.
É o bem bom que acaba. É a facilidade que muda. É atravessar a rotunda e ir em frente. É o começo da luta pela vida. A luta por uma palavra nova. A NOSSA Vida!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O Marciano

“O planeta Marte enviou um emissário à Terra. Invisível, a sua tarefa consiste em observar o comportamento dos habitantes deste planeta quase desconhecido e enviar relatórios periódicos da sua missão. Escreva um desses relatórios.”


Relatório

Planeta Terra, 15 de Setembro de 2001

No dia 11 de Setembro de 2001, pela manhã, fui surpreendido com algo que jamais tinha visto na minha vida de astronauta descobridor.

Ao despertar, decidi fazer a minha corrida matinal diária, saí do meu “habita-telhado” e deparei-me com o Inferno. Só havia fumo, destroços, uma grande agitação, muitos gritos e senti imensa tristeza no ar.

Já com uma certa inquietude por não conseguir ver o que se passava, ao correr um pouco e desviar-me de todos os que se encontravam à minha frente, mandei um grito descontrolado quando cheguei ao ponto do acontecimento. O fumo dificultava-me a visão mas, ao esfregar os “olhozóculos”, encontrei as maiores torres deste planeta destruídas, pessoas mortas no chão, adultos desesperados e a desmaiar, imensos bombeiros feridos e polícias sem saber bem como reagir a tal catástrofe.

Senti imensa raiva, por ter numerosas perguntas e ninguém me ouvir. Como teria tal coisa acontecido? Teria sido um acidente, certamente que ninguém ia querer fazer, de propósito, algo tão arrepiante e catastrófico.

Tive que esperar que a confusão acalmasse minimamente, para poder voltar para o meu “habita-telhado”, no caminho olhei para uma montra e vi todas as minhas respostas ali. Em todas as televisões lá expostas, podia ver-se a notícia do que eu estava a assistir. Liguei o meu “traduzoterráquia” para perceber o que diziam e fiquei tão pasmado que a minha boca se manteve aberta durante algum tempo.

“Esta manhã, quatro aviões foram sequestrados. Dois deles, chocaram contra as torres World Trade Center de Nova Iorque. Outro, embateu contra o Pentágono (edifício famoso das forças armadas dos EU) no condado de Arlington em Virgínia e o último despenhou-se. (…)
Especialistas afirmam que se trata de um atentado com ataque suicida coordenado pela Al-qaeda contra alvos civis dos Estados Unidos da América. (…)”

Este planeta adora guerras, já me apercebi que os “grandes senhores”, aos quais chamam de “presidentes”, planeiam ataques aos outros países com o intuito de ficar com as riquezas e armas deles. E estes, como forma de protesto e revolta, respondem-lhes com ataques aos seus países. Mas, o mais horrível disto tudo é que eles não saiem do aconchego dos seus “habita-telhados” gigantescos e deixam o trabalho sujo para o seu povo, pessoas indefesas que são forçadas a fazer uma viagem que, muitas das vezes, não tem regresso. Não são as famílias dos “grandes” que choram pelos entes queridos, não são os seus filhos que ficam sem pai porque este “lutou pelo país”. Será que essa criança vai conseguir amar o país que lhe levou o seu pai para sempre?
Este planeta é tão diferente, esforçam-se para que os outros acabem mal, existem extremos de riqueza e extremos de fome. Os ricos querem tudo o que têm só para eles mas os pobres tentam ajudar com o pouco que lhes resta. O planeta Terra é realmente confuso.

Nem consigo imaginar o sofrimento e a aflição que as pessoas, que estavam sequestradas naqueles quatro aviões, estavam a sentir. Com armas apontadas, sem se poderem mover, vendo o seu destino nas mãos daqueles terroristas, sabendo que iam morrer e não podiam dizer nada a quem mais amavam.

E as pessoas que se encontravam a trabalhar ou somente de visita naquelas torres? De um minuto para o outro, olharam pela janela e viram um avião na sua direcção. Mesmo muitos dos que sobreviveram ao choque não conseguiram sair daquele pesadelo visto que, tudo ao seu redor estava coberto de chamas.

Resta-me falar dos bombeiros e policias que tentaram salvar os que se encontravam dentro dos edifícios. Mesmo com as melhores das intenções, ficaram junto dos que queriam salvar, como se tivessem feito algo de errado. Foi a sua recompensa.

De certeza que todas essas pessoas, naquele momento, se perguntaram a si próprias “Porquê eu?”. E quem lhes vai responder? O George W. Bush ou o Osama Bin Laden (ambos “grandes senhores”)? Nenhum deles, estão demasiado ocupados a elaborar o plano para o seu próximo ataque.

Ontem li num jornal que, até ao momento, foram descobertos por volta de três mil e quinhentos mortos e vinte e quatro pessoas foram anunciadas como desaparecidas. Mas os governantes continuam insatisfeitos… Será que o objectivo deles é ficarem com o planeta só para eles? Se assim for, eu marco uma reunião com os dois e comunico-lhes que não necessitam provocar a morte de tanta gente. Posso levar todos comigo, cabem todos no nosso planeta, não cabem? São muito bons trabalhadores e quase tão inteligentes como nós, só necessitavam duma Acção de Formação de bons modos e respeito.
Peço desculpa, eu sei que era suposto realizar um relatório mas eu sou um marciano como os outros, tenho carne e matéria verde como todos vós. De facto, relatei o sucedido, mas com sentimento.

Sinceramente, acho que já tenho todos os objectivos da minha missão concluídos. Consegui observar e transmitir-vos o que é realmente este planeta. Confusão, miséria, fome, sofrimento, criminalidade, dor... Isto tudo num só dia, num só planeta, acho que ele não é assim tão grande para que caiba tudo isto lá dentro e reste espaço para as coisas boas da vida.
Espero então a vossa autorização para regressar. Como devem calcular, não tenho muita vontade para me manter neste local.


Saudades e um abraço para toda a minha família.

Cumprimentos Marcianos,
Inventady Martingy

P.S.: No dia do atentado, quando observava o que se estava a suceder ouvi uma terráquea a gritar “Isto parece de outro mundo!”… Visto que em Marte não acontece nada parecido, será que existe algum planeta com algo pior que isto?! Não me mandem para lá, por favor!

Foto de Familia

“Nessa ocasião, toda a família se reuniu para a fotografia. Mas nem sempre as coisas correram assim tão bem.”

- Tudo a postos? Vá, digam BANANA! – Disse o fotógrafo, visivelmente divertido.

- BA-NA-NA! – Responde toda a família sorridente em coro, inclusive o bebé atrapalhado de três aninhos.

A felicidade ali fica, num bonito e brilhante papel que não retrata mais do que uma simples e treinada mentira.

Depressa, aquelas cinco pessoas dispersam-se como se estivessem atrasadas para alguma coisa.
Num casamento maravilhoso com paisagens deslumbrantes, onde se encontravam cerca de quatrocentas pessoas a festejar e aparentemente felizes, incluía-se aquela família.

O pai, um senhor descontraído com olhar meigo, ao elogiar a rapidez do fotógrafo, afastou-se de seguida para poder fumar o seu tão desejado cigarro.

A mãe, uma senhora com espírito jovem, seguiu em busca do grupo de senhoras com quem estava antes a comentar as vestes das restantes convidadas.

A filha, uma rapariga serena e divertida de dezoito anos corria pela relva com dificuldade, devido aos seus elegantes sapatos com quinze centímetros de salto, atrás do seu irmãozinho reguila que roubara o balão a uma menina que muito chorava como se o mundo ali acabasse.

E finalmente, o adolescente de dezasseis anos, um jovem um pouco inquieto mas também já interessado nas raparigas que ali passavam naquele momento.

De repente, o cenário muda. Os irmãos reúnem-se novamente e riem-se com satisfação, visto que, enquanto a irmã acarinhava o mais pequenino, o outro massacrava-a com cócegas.
E os pais, onde estão?

Pergunta esta, feita pelos dois irmãos mais velhos desde sempre, à qual lhes davam sempre a mesma resposta, “Estão longe, lindos.”.

Ao avistar a sua avó, o rapaz acerca-se e ao lhe dar um beijinho chama-lhe “minha baixinha” como de costume. A senhora já com os traços da idade e de cansaço marcados na sua terna face, limita-se a sorrir-lhe.

A rapariga ao a ver sentada, puxa-a e leva-a para a pista com a tentativa de aprenderem as duas a dançar o tão tradicional bailarico.

Aqueles dois irmãos sabiam o que deviam àquela senhora, ou melhor, àquela mãe.
Sim, mãe, visto que, foi ela quem os acolheu, os alimentou, os criou e educou quando os pais partiram para Espanha à busca de uma nova vida e sem regresso planeado.
E assim cresceram, visitando os pais nas férias de Verão mas sem criar grandes laços para além dos necessários.

Nunca tiveram pais presentes, portanto não sentiam a falta deles. Talvez nem saibam o que é o tão falado, conselho da mãe. Mas custa a qualquer criança, o facto de ser diferente dos amigos.

Apesar de nunca terem recebido nada de relevante por parte dos pais, foram surpreendidos, três anos antes daquele casamento, com a melhor prenda que poderiam vir a receber, um irmão. Já tinham um ao outro e não conseguiam viver separados, mas aquele menino foi como uma luz nas suas vidas. Alguém do mesmo sangue, que apesar da distância travaram laços tão fortes como se vivessem juntos. Aquele bebé, reguila mas muito carinhoso ao mesmo tempo, de três aninhos mas já com uma personalidade muito forte, era tudo para os seus dois irmãos, eram os seus protectores e amavam-no como se fosse criado com eles.

Talvez o único factor de união entre eles e os pais, era o bebé.

Enfim, apesar da diversão existente naquele casamento, o dia tinha chegado ao fim. Após a recolha e arrumação, vinha a despedida. Enquanto os pais somente receberam dois beijos frios dos filhos e um “Até um dia”, o pequenino estava atrapalhado ao ser abraçado tão fortemente pelos dois irmãos que desejavam não o largar mais.

Já no carro dos avós, a rapariga segurava na fotografia de família, tirada no início do casamento e pensava:
“O que significa realmente esta fotografia? Se as fotografias têm o objectivo de recordar, para que serve esta? Não existe recordação possível num monte de sorrisos falsos. Para quê parecer bem se nunca o esteve? Fotografia de família, disse o fotógrafo… Família? Onde? Sinceramente não compreendo.”

Suspira, olha novamente para a fotografia, sorri já com saudade ao olhar para o pequenino com sorriso de malandro e encosta a fotografia de face para baixo na sua saia.

“Um dia terei uma família com sorrisos verdadeiros…”, pensou ela olhando para o sol a pôr-se e acabando por adormecer.