segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Foto de Familia

“Nessa ocasião, toda a família se reuniu para a fotografia. Mas nem sempre as coisas correram assim tão bem.”

- Tudo a postos? Vá, digam BANANA! – Disse o fotógrafo, visivelmente divertido.

- BA-NA-NA! – Responde toda a família sorridente em coro, inclusive o bebé atrapalhado de três aninhos.

A felicidade ali fica, num bonito e brilhante papel que não retrata mais do que uma simples e treinada mentira.

Depressa, aquelas cinco pessoas dispersam-se como se estivessem atrasadas para alguma coisa.
Num casamento maravilhoso com paisagens deslumbrantes, onde se encontravam cerca de quatrocentas pessoas a festejar e aparentemente felizes, incluía-se aquela família.

O pai, um senhor descontraído com olhar meigo, ao elogiar a rapidez do fotógrafo, afastou-se de seguida para poder fumar o seu tão desejado cigarro.

A mãe, uma senhora com espírito jovem, seguiu em busca do grupo de senhoras com quem estava antes a comentar as vestes das restantes convidadas.

A filha, uma rapariga serena e divertida de dezoito anos corria pela relva com dificuldade, devido aos seus elegantes sapatos com quinze centímetros de salto, atrás do seu irmãozinho reguila que roubara o balão a uma menina que muito chorava como se o mundo ali acabasse.

E finalmente, o adolescente de dezasseis anos, um jovem um pouco inquieto mas também já interessado nas raparigas que ali passavam naquele momento.

De repente, o cenário muda. Os irmãos reúnem-se novamente e riem-se com satisfação, visto que, enquanto a irmã acarinhava o mais pequenino, o outro massacrava-a com cócegas.
E os pais, onde estão?

Pergunta esta, feita pelos dois irmãos mais velhos desde sempre, à qual lhes davam sempre a mesma resposta, “Estão longe, lindos.”.

Ao avistar a sua avó, o rapaz acerca-se e ao lhe dar um beijinho chama-lhe “minha baixinha” como de costume. A senhora já com os traços da idade e de cansaço marcados na sua terna face, limita-se a sorrir-lhe.

A rapariga ao a ver sentada, puxa-a e leva-a para a pista com a tentativa de aprenderem as duas a dançar o tão tradicional bailarico.

Aqueles dois irmãos sabiam o que deviam àquela senhora, ou melhor, àquela mãe.
Sim, mãe, visto que, foi ela quem os acolheu, os alimentou, os criou e educou quando os pais partiram para Espanha à busca de uma nova vida e sem regresso planeado.
E assim cresceram, visitando os pais nas férias de Verão mas sem criar grandes laços para além dos necessários.

Nunca tiveram pais presentes, portanto não sentiam a falta deles. Talvez nem saibam o que é o tão falado, conselho da mãe. Mas custa a qualquer criança, o facto de ser diferente dos amigos.

Apesar de nunca terem recebido nada de relevante por parte dos pais, foram surpreendidos, três anos antes daquele casamento, com a melhor prenda que poderiam vir a receber, um irmão. Já tinham um ao outro e não conseguiam viver separados, mas aquele menino foi como uma luz nas suas vidas. Alguém do mesmo sangue, que apesar da distância travaram laços tão fortes como se vivessem juntos. Aquele bebé, reguila mas muito carinhoso ao mesmo tempo, de três aninhos mas já com uma personalidade muito forte, era tudo para os seus dois irmãos, eram os seus protectores e amavam-no como se fosse criado com eles.

Talvez o único factor de união entre eles e os pais, era o bebé.

Enfim, apesar da diversão existente naquele casamento, o dia tinha chegado ao fim. Após a recolha e arrumação, vinha a despedida. Enquanto os pais somente receberam dois beijos frios dos filhos e um “Até um dia”, o pequenino estava atrapalhado ao ser abraçado tão fortemente pelos dois irmãos que desejavam não o largar mais.

Já no carro dos avós, a rapariga segurava na fotografia de família, tirada no início do casamento e pensava:
“O que significa realmente esta fotografia? Se as fotografias têm o objectivo de recordar, para que serve esta? Não existe recordação possível num monte de sorrisos falsos. Para quê parecer bem se nunca o esteve? Fotografia de família, disse o fotógrafo… Família? Onde? Sinceramente não compreendo.”

Suspira, olha novamente para a fotografia, sorri já com saudade ao olhar para o pequenino com sorriso de malandro e encosta a fotografia de face para baixo na sua saia.

“Um dia terei uma família com sorrisos verdadeiros…”, pensou ela olhando para o sol a pôr-se e acabando por adormecer.

2 comentários:

  1. Óptimos textos!! Muito imaginativos e muito bem escritos.
    Mais palavras...Continua, quero ler mais e mais :)

    Parabéns!
    Sandra

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  2. bom texto , pena ser um autoretrato mas hade correr tudo pelo melhor .

    arranja um cão bonito ok?

    beijoka

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